História do dia




Os Aliados Desavindos


O leopardo e o leão combinaram ir à caça juntos.


Que susto para o resto da bicharia! Se cada um deles por si só já fazia muito estrago, o que seria com os dois, em aliança?

- Aliança de pouca dura - garantiu o urso, que tinha fama de urso sábio.

Mas, até ver, os bichos mais indefesos tomaram as suas precauções. Esconderam-se nas suas tocas os que as tinham, abrigaram-se onde puderam os que não tinham casa sua. Todos muito quietinhos.

Mas um zebu imprudente perdeu-se do resto da manada e, sem saber como, viu-se cercado pelo leopardo e pelo leão. Patada de um, patada de outro, e o zebu ficou pronto para o almoço dos dois carniceiros.

- Esta primeira caça pertence-me - sentenciou o leão.

Claro que o leopardo não estava de acordo:

- E com que direito, se os dois caçámos o zebu? Tanto é seu como meu. Podemos comê-lo a meias.

- Alto lá! - disse o leão. - Nós combinámos caçar juntos. Não combinámos comer juntos.

- Ora essa! - protestou o leopardo. - Para mim é a mesma coisa, mas se faz diferença, porque é que há-de ser o leão o primeiro a comer?

- Porque eu estou habituado a uma primeira refeição de mais substância e só um zebu inteiro me matará a fome - rugiu o leão.

- E eu fico a vê-lo refastelar-se com o que nós dois caçámos? - opôs-se o leopardo. - Isso é que era bom!

- Bem bom - anuiu o leão, já de boca cheia.

O leopardo arrancou-lhe a febra da boca.

- Largue o que me pertence. Isto não fica assim.

Bulharam. Lutaram. Rebolaram no chão, qual de cima qual de baixo, ferozes como mais nenhuns.

Aproveitando a confusão da luta, um bando de chacais, a rirem-se da velhacaria, roubaram-lhes a presa.

Quando o leopardo e o leão deram pela ladroeira já era tarde.

Resultado: nunca mais quiseram caçar juntos.

- Tal como eu calculava - disse o urso sábio, que gostava sempre de tirar uma lição destas histórias de bichos. - Dois aliados de tamanha força, mais tarde ou mais cedo zangam-se. Nestas ocasiões, os mais fracos é que aproveitam.

A restante bicharada concordou, com um longo suspiro de alívio.


Por António Torrado

e Cristina Malaquias


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