Vídeo da semana.






"Invention of Love" de Andrey Shushkov






Em Invention of Love (A invenção do amor), um casal vive uma história de amor num mundo triste, onde tudo à sua volta são máquinas, exceto algumas flores. E durante a projeção do filme fica uma pergunta no ar: qual o espaço para o amor?

O diretor russo, Andrey Shushkov, realizou  Invention of Love  entre 2009 e 2010, na  Saint-Petersburg University of Culture and Arts.

Andrey Shushkov nasceu em 1986, em 2005 começou estudar cinema em São Petersburgo, onde descobriu a sua paixão pelo cinema de animação.
 
 
 
 

Boas festas!




A equipa da biblioteca da Escola Básica e Secundária Tomás de Borba deseja a todos um
Feliz Natal e Próspero Ano Novo.


História do dia



                                                 Feliciana, a Lebre Ilusionista

A lebre Feliciana era ilusionista. Admiram-se? Então porquê?

Se há pombos que são correios, cães que são pastores, vacas que são leiteiras (diz-se ou não se diz ?uma vaca leiteira"?), bichos que são carpinteiros (diz-se ou não se diz ?bichos carpinteiros"?), porque não há-de haver lebres que sejam ilusionistas?

Pois. Mas esta lebre não era de circos. Preferia trabalhar sozinha, numa clareira da floresta, transformada pela numerosa assistência bicharal em pista de espectáculos circenses.

Vinham todos e até a toupeira, tão fraca da vista, se estarrecia, na primeira fila, com as artes mágicas da lebre Feliciana.

- Destas artes e manhas não sei eu... - confessava a raposa, que nunca perdia uma matiné.

- E ainda bem que não sabes - comentava, ao lado dela, a galinhola. - Porque se soubesses não havias de tirar bom partido da arte...

- Schiu! - irritavam-se os espectadores da frente. - Deixem actuar o artista.

E valia a pena ver. Da cartola da Feliciana, colocada em cima da mesinha tem-te-não-caias, saíam fieiras de lenços, presos uns aos outros, quando há bocadinho para lá tinham entrado um por um e todos deslaçados.

- Desconfio que ela mete um rato dentro do chapéu, o rato Fosquinhas, que ata os lenços uns aos outros num abrir e fechar de olhos - observava de senho carregado o javali.

- O rato Fosquinhas sou eu - respondia-lhe uma voz do meio do público. - Sou eu e garanto-lhe que nunca me meti no chapéu de ninguém.

- São artes mágicas que só ela sabe - concluiu a coruja, que para estas coisas nunca fechava os olhos.

Sim, só a lebre sabia e por isso das suas artes tirava bom proveito. Onde aprendera? Como aprendera? Isso era mistério que a Feliciana não desvendava. A um artista ilusionista não convém fazer grandes revelações acerca das suas habilidades.

Mas, quando começava a época da caça, a lebre, por razões óbvias, não conseguia vender muitos bilhetes. Os bichos refugiavam-se nas suas tocas, e por mais que a Feliciana anunciasse que o espectáculo não sofria interrupções nem havia que temer motivos imprevistos, a bicharada preferia ficar em casa. É que andavam os ares muito turvos, muito pesados, e cheirava a pólvora a milhas de distância.

Ela não desistia. E mesmo que o único espectador visível fosse o rato Fosquinhas, a lebre Feliciana, na sua clareira, com a cartola em cima da mesa treme-treme, não desistia do espectáculo.

Havia, no entanto, quem gostasse de apreciar as habilidades da lebre de borla, escondido nos matagais à roda da clareira. Era o caçador forunfunfor, triunfunfor...

Nessas alturas, ao aproximar do perigo, o rato Fosquinhas dava o sinal, fugindo a sete pés, e a lebre Feliciana, num salto cheio de elegância, mergulhava para dentro da cartola.

Perdiam-se no ar os tiros e, quando o caçador, ainda atarantado da presteza da lebre, metia a mão na cartola, julgando trazer a lebre presa pelas orelhas, vejam só o que lhe saía em sorte... Uma fieira de lenços e bandeirinhas, como se fosse um arraial...

 
Por António Torrado e Cristina Malaquias,
12 de dezembro de 2009

Se quiseres ouvir a história clica aqui.





Poema da semana





A menina que veio do fundo do mar


tinha colado ao rosto um espanto sem medo

e uma densa manhã de mistério e de névoa

fluctuava nos restos do vestido de renda



a menina ondulava na crista vagarosa

tinha nas mãos de pedra ainda um sonho ileso

e entre a rocha e o abismo o corpo rosa

entre a gaivota e a anémona estava preso



por quatro deuses de fogo que em fluidez colhiam

com as foices de fogo trespassadas de tempo

a morta-flor surgida entre os naufrágios

como um véu entre a noite e o pensamento



na manhã sub-lunar era branca a memória

e da margem oposta à qual somos estranhos

um selo inviolável cobre a morta

para sempre apagando o nome aceso





Madalena Férin in A Cidade Vegetal
 

Vídeo da semana.



"D. Afonso Henriques O Conquistador"


Vamos conhecer a vida e os feitos do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.Vídeo animado com argumento e realização da autoria de Pedro Lino, resulta de uma parceria conjunta entre o Museu de Alberto Sampaio e a Câmara Municipal de Guimarães e foi desenvolvido no âmbito das Comemorações dos 900 Anos do Nascimento do primeiro monarca português.




História do dia.


                                        
Sape, Cão!

Era uma vez um cão com dono...


Era uma vez um gato sem dono...

- Quem vem lá? - pergunta o cão, de focinho no ar, a farejar, a farejar...

Claro que esta pergunta a fez ele muito antes de tudo isto começar - aí a uns duzentos metros desta história.

O gato não tem o faro tão apurado, mas os olhos dele atravessam a distância e pressentem sombras e ameaças, que só ele conhece. Por acaso, desta vez, o gato não ia a olhar para onde devia. Era um gato distraído. Ou míope.

Quando se lhe eriçaram os bigodes, já era tarde. À sua frente, de supetão, um cão cãozarrão, voz de trovão... Que aflição!

Foge!

Antes que lhe dissessem, já ele tinha fugido. As patas iam à frente, e ele com elas. Tal como nos filmes de desenhos animados.

Este filme é curto. Acaba numa árvore sem frutos, sem folhas, uma árvore mesmo a propósito para salvar gatos.

Correu por ela acima e não deu por que subia. Nem que fosse um pinheiro gigante, um mastro, um muro de castelo. Nem que fosse a Torre Eiffel... De unhas-canivetes-picaretas, com a pressa atarantada em que ia, o gato até era capaz de trepar à Lua, se houvesse escadas para lá chegar.

Ficou-se pelo cimo da árvore. Deu por isso quando lhe faltou o apoio. Sobravam-lhe forças para muito mais lances.

- E agora? - perguntou, lá de acima, o gato, engolindo ar.

Ele era preto, como o corvo da fábula, enquanto o cão, mal acomparado, fazia as vezes da raposa. Faltava apenas o queijo. E a manha.

- E agora? - perguntou de novo o gato, mais seguro do seu poiso.

- Agora fico à espera que a árvore dê frutos e os frutos caiam de maduros... - rosnou o cão.

Se nos ficássemos por aqui, esta história não chegava ao fim, o que era pena. Temos nós, portanto, de acrescentar o mais importante da fábula.

Sim, porque isto é uma fábula, a do cão, animal doméstico, e do gato, animal vadio... As conclusões, vocês que as tirem.

- Piloto! - chamou uma voz ao longe.

O cão Piloto fingiu que não era com ele.

- Estão a chamar-te, Piloto. Tens de ir - aconselhava-lhe, do seu poleiro, o gato. - Sempre ouvi dizer que os cães são muito obedientes.

- Piloto! - repetiu a voz, mais perto e mais impaciente.

O cão rosnou, levantou os traseiros e voltou a sentar-se.

- Piloto, venha já ao dono! - gritou a voz ameaçadoramente perto.

E o Piloto, de cabeça baixa, lá foi, suspirando...

Se quiseres ouvir a história podes clicar aqui!


Por António Torrado e 
Cristina Malaquias,
7 de dezembro de 2009


O Natal já chegou à nossa Biblioteca!



Já é Natal na nossa Biblioteca.



A professora Maria Ana Simões e os alunos das turmas, 8º1, 8º2, 8º3, OPIIIA, OPIIIB, OPProf.A/E e OPProf.B/E imaginaram e prepararam o nosso pinheirinho de Natal.


Reutilizaram folhas de jornais, moldaram flores que depois pintaram.


O resultado está à vista.



Os nossos sinceros parabéns pelo resultado final... adorámos!


Poema da semana


Autogénese



Nascitura estava

sem faca nos dentes

cómoda e impura

de não ter vontade

de bater nas gentes.



Nasce-se em setúbal

nasce-se em pequim

eu sou dos açores

(relativamente

naquilo que tenho

de basalto e flores)

mas não é assim:

a gente só nasce

quando somos nós

que temos as dores;



pragas e castigos

foram-me gerando

por trás dos postigos

e um fórceps de raiva

me arrancou toda

em sangue de mim.



Nascitura estava

sorria e jantava

e um beijo me deste

tu Pedro ou Silvestre

turvo namorado

do verão ou de outono

hibernal afecto

casca azul do sono

sem unhas do feto.



Eu nasci das balas

eu cresci das setas

que em prendas de sala

me foram jogando

os mulheres poetas

eu nasci dos seios

dores que me cresceram

pomos do ciúme

dos que os não morderam;



nasci de me verem

sempre de soslaio

de eu dizer em junho

e eles em maio

de ser como eles

às vezes por fora

mas nunca por dentro

perfil de uma estátua

que não sou de frente.



Nascitura estava

e mais que imperfeita

de ser sorte ou dado

que qualquer mão deita.



Eu nasci de haver

os bairros da lata

do dedo que escapa

dos sapatos rotos

da fome que mata

o que quer nascer

e que o sábio guarda

em frascos de abortos;



eu nasci de ver

cheirar e ouvir

dum odor a mortos

(judeus enlatados

para caberem mais

mas desinfectados)

pelas chaminés

nazis a sair

de te ver passar

de me despedir

de teus olhos tristes

como se existisses.



Nascitura estava

tom de rosa pulcra

eu me declinava

vésper em latim:

impura de todos

gostarem de mim.





Natália Correia in O Vinho e a Lira