PRANTO DOS EUROPEUS
À SAÍDA DO FESTIM
I
Pronta que foi a obra e ficaram os deuses
parados no azul e se abriram os zeros
nós saímos dos ovos e quisemos ser números
para que a cada um chamasse pelo seu nome
a luz que em seus andaimes mais altos nos provoca
com os loucos instrumentos que põe dentro do eterno
O anjo do ocidente à entrada do ferro
sorriu e atraiu-nos aos cantos mais escuros
de um lugar abolido pois sempre à criação
angustia o criado Sombriamente puros
são os deuses insanos a fugir aos seus actos
que depressa abandonam como animais imundos
Mas tínhamos a força de uma breve existência
que de nós se escapava como um sonho de gás
e numa concordância sombria de formigas
uma a uma levámos as colunas de uma Europa
chamada pelos confins raivosos dos metais
e onde nos deslumbrou a estrela dos incêndios
demos futuro às cinzas às chamas capitais
velocidade aos venenos miasmas aos países
ao malefício os ímanes que desvairam as águas
e ao zodíaco uma estância de espinhos no aquário
As coisas que tocámos cobrimos de feridas
com a estranha violência de as amarmos demais
Terrível é o material grátis da inocência
porque tudo se dava virginalmente a nós
como a um excesso de mãos apenas aprendidas
e pródigos de sermos os maiorais da terra
inspirados por guerras e templos litigantes
como assombros proscritos as cidades cresciam
numa fuga para as nuvens em colunas tiritantes
que seguram o anátema que vai cair dos céus
Natália Correia in
O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro
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