A menina que veio do fundo do mar
tinha colado ao rosto um espanto sem medo
e uma densa manhã de mistério e de névoa
fluctuava nos restos do vestido de renda
a menina ondulava na crista vagarosa
tinha nas mãos de pedra ainda um sonho ileso
e entre a rocha e o abismo o corpo rosa
entre a gaivota e a anémona estava preso
por quatro deuses de fogo que em fluidez colhiam
com as foices de fogo trespassadas de tempo
a morta-flor surgida entre os naufrágios
como um véu entre a noite e o pensamento
na manhã sub-lunar era branca a memória
e da margem oposta à qual somos estranhos
um selo inviolável cobre a morta
para sempre apagando o nome aceso
Madalena Férin in A Cidade Vegetal
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