Poema da semana





A menina que veio do fundo do mar


tinha colado ao rosto um espanto sem medo

e uma densa manhã de mistério e de névoa

fluctuava nos restos do vestido de renda



a menina ondulava na crista vagarosa

tinha nas mãos de pedra ainda um sonho ileso

e entre a rocha e o abismo o corpo rosa

entre a gaivota e a anémona estava preso



por quatro deuses de fogo que em fluidez colhiam

com as foices de fogo trespassadas de tempo

a morta-flor surgida entre os naufrágios

como um véu entre a noite e o pensamento



na manhã sub-lunar era branca a memória

e da margem oposta à qual somos estranhos

um selo inviolável cobre a morta

para sempre apagando o nome aceso





Madalena Férin in A Cidade Vegetal
 

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