NOVAS DA ILHA
1.
Chegam-me cartas da ilha. Sustenho-as
cavalas frescas dependuradas de guelras abertas
inda agora acabadas de chegar
– do mar da serreta ou do mar das Cinco? –
num barco de S. Mateus que acabou de varar.
Como posso enganar-me? O carteiro tinha cara de nabiça
e inda pingam pelo bico
a ternura acabada de pescar.
Retenho nos olhos um instante as postas que darão
de sonho no vinho da notícia e no alho bem pisado da distância.
Abro-as enfim
mariscando no mar brumoso da saudade. À parte
aparto carinhosas as espinhas ortográficas.
E chupo-as como se acabadas de fritar.
2.
Vida sanabagana. De que me serve pôr-me a maquinar
se o tempo não mudou anda barbudo as vacas amarradas
os bezerros rolhados a berrar. E o céu sempre cinzento
e o mar. Esp’rança pr’adonde estás? Pra América ou Canadar
Em volta tudo é um paredão de mar.
O coração fica-me num bolo de massa sovada
mal cozida e embolada.
E sinto a alma abatumada.
Marcolino Candeias in Na Distância deste Tempo
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