Não sei se sabes
Não sei se sabes,
sou do sul.
A minha terra,
rio, rosa e sol
do meu peito,
é a sombra do rosto
de minha mãe
à janela
da memória.
Eu brincava com a chuva
nos cabelos revoltos
da manhã.
O clamor dos eucaliptos
tremia no meu sangue
e os passos do vento
perdiam-se no meu andar.
A cantar perseguia
o silêncio até adormecer
entre os braços
do crepúsculo.
Como lâmpadas
que de súbito se apagam,
os meus olhos perderam
nos regatos
a luz do entardecer.
Esta é uma revoada
de folhas na memória,
na janela onde minha mãe
vê o silêncio sentar-se
à porta.
Digo-te, do rio
que me despedi não sei
onde o afluente
envolve as palavras
e a memória
do olhar.
Eduardo Bettencourt Pinto
in Mão Tardia (1981), Col. Gaivota
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