...do nosso Presidente
Escolher o livro da minha vida é tão difícil quanto escolher o momento mais feliz da minha vida! Por essa razão, decidi seleccionar cronologicamente os livros, cuja leitura, desde a minha infância até à data, mais prazer me deram. Ainda antes de iniciar a enumeração dos livros da minha vida, entendo ser importante clarificar o que é para mim a leitura: ler um livro é um acto íntimo de profunda fruição; é um processo de descoberta, envolvimento e paixão. Quando temos a sorte de ter nas mãos um bom livro, somos levados pelas suas páginas num processo contínuo de deleite e arrebatamento; no seu final, sentimos uma satisfação semelhante à que temos quando passamos bons momentos com os nossos amigos ou ainda ao culminar de uma viagem de sonho. Por vezes, o livro é tão fascinante que no final sentimos alguma tristeza pelo seu término. Ler um livro é uma aventura; nunca sabemos o que nos espera, se vamos desistir no primeiro capítulo (às vezes acontece) ou o lemos deliciados e ininterruptamente do princípio ao fim (acontece a maioria das vezes). Ler é, acima de tudo, um acto de crescimento humano e cultural.
Bom, os primeiros livros que me lembro de ler na minha pré-adolescência, afincadamente, tardes seguidas, foram as colecções dos “Cinco” e dos “Sete” da Enid Blyton. Recordo-me do cão “Tim” e dos inúmeros piqueniques que estes aventureiros faziam, os quais me abriam constantemente, por sugestão, o apetite. Lembro-me da minha paixão pelos livros do Astérix. Ainda hoje gosto de banda desenha, em especial do Calvin and Hobbes.
Como tive a sorte de ter sempre muitos livros à minha volta em casa, passei na adolescência, por sugestão de um familiar, a leituras mais “maduras”. Li nessa altura livros especiais, como O Estrangeiro e A Peste, de Albert Camus, e A Metamorfose, de Kafka. Foi ainda nos meus dezasseis e dezoito anos que me entusiasmei com Ernest Hemingway e os seus inúmeros livros, entre eles, Fiesta, O Velho e o Mar e Por Quem os Sinos Dobram. Curiosamente, os autores portugueses ainda não me cativavam o suficiente, à excepção de Eça de Queirós. Recordo a leitura que fiz da sua obra, de uma forma semi-comprometida, considerada non grata pelo regime de Salazar, O Crime do Padre Amaro. Curiosamente, nessa altura, Os Maias passaram-me ao lado, talvez pela obrigação do seu estudo no liceu. É justo, porém, afirmar que a obra Os Maias é um romance cuja leitura me deixou extasiado. Acho que o li com a idade e a maturidade certas. De Eça, destaco ainda A Cidade e as Serras e A Capital. O seu profundo conhecimento da sociedade portuguesa e das suas personagens é profusamente satirizada nas suas obras O Conde de Abranhos e Correspondência de Fradique Mendes e ajudaram-me a consolidar o conhecimento do nosso Portugal político.
Recordo, ainda, as noites de Verão em que vorazmente li Cem Anos de Solidão e Amor em Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marquez, obras assombrosas e arrebatadoras. Ainda nesse período do início da minha idade adulta, recordo as leituras de O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco, obras enigmáticas e misteriosas.
Para concluir, devo dizer duas coisas: li imensos livros e na sua maioria conclui a sua leitura com prazer; não cabem aqui a referência a todos eles, cuja memória associo a um determinado período da minha vida. Essa é uma das vantagens da leitura: olharmos para a nossa linha do tempo e lembrarmo-nos dos bons momentos passados numa noite de Verão lendo até quase ao amanhecer uma obra fantástica, não podendo adormecer até chegar à última página!
Não o queria fazer, mas vou ter que referenciar aqui alguns dos livros que trouxeram um pouco de sonho à minha vida: A Menina do Mar e A Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, o Le Petit Nicolas, do Sempé, Os Miseráveis de Victor Hugo, As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn, de Twain, As Aventuras de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, e A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. Aconselho a leitura destas obras a todos os jovens (a todos!). Nunca é tarde para as descobrir!
Confesso as minhas duas grandes predilecções da Literatura Portuguesa: Miguel Torga, a quem sou fiel desde os tempos da minha adolescência, com a leitura dos Contos da Montanha, até aos dias de hoje, com a leitura do seu Diário, repleto de memórias de um Portugal passado, sem liberdade e dignidade. A coragem de Torga é um exemplo de vida; a sua escrita é cortante e seca como o frio da sua aldeia (S. Martinho da Anta), onde cheguei a deslocar-me para conhecer a casa onde o Torga escritor e homem íntegro nascera. Fernando Pessoa é para mim uma paixão; ao contrário de Miguel Torga, a sua escrita, na minha vida, não é do passado; quero com isto dizer que a sua obra é eterna e que de tempos a tempos tenho necessidade de reler a sua magistral poesia, cuja grandeza e profundidade me deixou para sempre abalado. Considero Fernando Pessoa o expoente máximo da Literatura Portuguesa e a sua obra um legado da língua portuguesa ao mundo.
Augusto Oliveira
Presidente do Conselho Executivo da EBS Tomás de Borba
Neste momento, iniciei a leitura de A Montanha Mágica, de Thomas Mann, uma obra cuja recente reedição me permitiu finalmente a sua aquisição e leitura.
Ler é um ciclo mágico interminável. Ler, sonhar e viver. Sempre.
Augusto Oliveira
Presidente do Conselho Executivo da EBS Tomás de Borba
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