O livro da minha vida? Confesso que tive a tentação de quebrar o que me foi proposto e falar sobre vários livros, pois sempre representaram bons momentos de uma deliciosa ausência e de um crescimento pessoal, independentemente do seu género e da idade com que os li. O universo literário torna a escolha de um só livro... impiedosa! Felizmente!!
Escolho a estória de WutheringHeights, de Emily Bronte. Não por ter sido até hoje o livro que mais me impressionou, mas por me ter introduzido numa literatura profunda, apaixonante, capaz de mexer com o meu estado de espírito e, por consequência, a capacidade e o interesse pela leitura futura de outras magníficas obras.
Imaginem o estado de espírito de uma jovem com 17 anos, cuja adolescência se assemelhava, do seu ponto de vista, a um calvário de injustiças e inseguranças e que, pela primeira vez, folheia com perplexidade e crescente curiosidade uma narrativa de cenário obscuro situado na Inglaterra, numa casa sombria, habitada por uma família que abriga um menino cigano, de origem duvidosa, portanto. É ele, Heathcliff, personagem principal, que, tornado adulto, desencadeia o desenrolar tumultuoso de acontecimentos gerados pela obsessão sentimental que nutre por Catherine, uma bela jovem que conhece desde a sua infância como irmã adotiva e de quem se torna inseparável.
A fatalidade nesta estória é inevitável, mas para chegar até ela, o leitor mergulha num universo poderoso do inesperado, de introspeção, de dúvida, paixão, dor e até de constante contradição e inquietude – mais presente no nosso espírito do que gostaríamos de admitir.
Será talvez interessante referir que Emily Bronte, ainda muito jovem,revela, nesta obra, o que os críticos consideram, uma maturidade e uma mestria na escrita invulgares, apenas reconhecidas anos após a sua morte.
Recomendo a sua leitura, pois é, sem dúvida, uma das obras mais marcantes do Romantismo no seu melhor.
Elsa Sousa, Professora de Inglês e Coordenadora do Departamento de Línguas